Nome:
Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Pensava em ser um Lawrence Olivier, ou um Orson Welles, e me tornei um seguidor de Van Gogh. Já escrevi fotonovelas, fiz teatro infantil e adulto. Aos 39 anos comecei a pintar... E asssim venho me expressando sem fronteiras, descobrindo que sou um artista.

29.7.06

GENEROSO KODAK






Ele fora marinheiro por muitos anos de nossa marinha mercante.Viajou por diversos mares, visitou diversos países e nunca se interessou em carregar consigo uma máquina fotográfica para guardar de lembrança os lugares visitados , pessoas que conhecia nas viagens, amigos que como ele pertenciam a mesma embarcação. E assim foi por muitos anos , procurando sempre nas viagens que fazia cumprir com sua obrigação, ser um marinheiro padrão, cumprir melhor possível com suas obrigações, e deixar os dias correrem até que chegasse de volta ao Brasil, avistasse de longe o Corcovado e o Pão de Assucar. Aí então sua vida mudava., Amava o país onde nasceu e nada o fazia mais feliz de ver seu navio atracar no porto da Praça Mauá, beber seu chopp geladinho no bar do Zico bem embaixo do prédio onde estava situada a Radio Nacional onde cantava aquela que ele considerava sua deusa ;: Emilinha Borba..Depois do chopp ele subia o Morro da Conceição onde morava em um quarto que alugara na casa de Dona Clotilde no número cinqüenta e dois e depois de cumprimentar outros moradores, pois dona Clotilde apesar dos quatros filhos que tinha alugava quartos e vagas para outros marinheiros e mesmo pessoas que nada tinham a ver com a marinha como dona Carlota e seu filho, cujo nome não me lembro que moravam no quarto da frente da casa, Depois de se aconxegar em seu quartinho esticava seu corpo naquele colchão que impacientemente lhe esperava de suas viagens.Generoso tinha três grandes amores na vida. O Brasil, Morro da Conceição e Emilinha Borba, a sua favorita e que havia sido eleita por todos de sua coporação a Favorita da Marinha. Fechado em seu quartinho., procurando não houvir o borburinho da casa:, crianças gritando, vozes de vizinhos chamando pela dona da casa, ele ligava seu radio e sintonizava na Radio Nacional procurando ouvir a voz saudosa de sua cantora preferida., ou então ligava sua pequena vitrola e colocava um disco e sorria ouvindo a voz de Emilinha cantando seus boleros ou marchinhas carnavalescas .Depois de alguns anos ele se aposentou da marinha e continuou morando no Morro da Conceição que era sua quarta paixão e não tendo mais nada para fazer na vida além de freqüentar o auditório da Radio Nacional, beber seu chopinho no Bar do Zico, ele que havia ganho de presente uma máquina fotográfica resolveu começar a fotografar o lugar onde vivia, seus amigos, as pessoas do morro e a distribuir gratuitamente a todos que fotografava com sua máquina Kodak . Por ter viajado muito poucos conheciam seu nome verdadeiro e graças a sua generosidade em distribuir as fotos graciosamente todos passaram a lhe chamar de Generoso Kodak. Era assim em todos os lugares do morro que percorria, fosse no campo de futebol fotografando o Conceição futebol club jogar, nos dias de carnaval onde fazia questão de fotografar seus companheiros do bloco de sujo que todos os anos descia a ladeira para se apresentar na Av Rio Branco e adjacências .Poucos sabiam que seu nome era Ozório Justino da Silva. Num desses carnavais, ele conheceu Amália por quem se apaixonou, uma dessas paixões tardias, quando a solidão começa a bater mais forte e as paixões antigas não tem mais tanto valor e assim ele resolveu abandonar o quartinho da casa de Dona Clotilde, deixou de lado os discos de Emilinha e resolveu pedir Amália em casamento e ir morar com seu novo amor lá para as bandas do Ceará. Foi-se ,Amália conseguiu enfeitiçá-lol e os dois partiram , não de navio, mas de ônibus A última noticia que nos chegou aqui no morro é que Generoso, nunca mais fotografou e aos poucos foi definhando de saudades do Morro da Conceição;Emilinha ele conseguia ouvir de seu radinho, já que morava lá pelos cafundós do Ceará.., Era saudades de mais para agüentar a viver por muito tempo. E lá. Debaixo de uns palminhos de terra Generoso descansa em paz.

Dallier, l3 de julho de 2006.