10 de julho de 1932.Em plena revolução eu nasci, entre tiros e correrias vim ao mundo nesse dia tumultuado.Fui amparado pelas mãos carinhosas, em casa, por minha mãe preta de nome Judith,com quem meus pais dividiam a casa de número 28 de uma ruazinha de nome Estela, quase no fim da Pacheco Leão, bem pertinho do horto florestal. Minha mãe não teve leite para amanentar-me nem tão pouco ao meu irmão Oswaldo nascido quase dois anos antes.Foi Dona Judith quem nos amamentou e foi de seus seios negros que nos alimentamos no princípio de nossas vidas. Ali vivemos por mais algum tempo até que viemos morar no Morro da Conceição, na Praça Mauá. Minha mãe éra operária da Fábrica Carioca e todos os dias viajava até a Gávea para trabalhar juntamente com minha tia Rosa . Minha tia mais velha de nome Maria cuidadava de nosso sustento, apesar que na velha casa de meus avós paternos
além deles moravam na casa outros filhos e netos . Morávamos nos fundos com uma linda vista para Baia da Guanabara, onde hoje serve de meu atelier, setenta e tantos anos depois. Naquela época existiam ônibus da ligth de dois andares que faziam o trajéto Praça Mauá- Jockey Club. Já quase completando sete anos ,meus pais resolveram voltar ao bairro onde nasci. Fomos morar em uma pequena casa de vila na Rua Lopes Quintas onde anteriormente morava o contra-mestre de minha mãe na fábrica.; cujo apelido éra Jaime Malhado. A casa além de ser muito pequena estava em péssimo estado, meu pai que ainda não havia visto a casa recusava-se a entrar. As paredes esburacadas , a cêrca com pedaços de madeiras amarradas com trapos velhos e sujos mostravam o que nos esperava.Minha mãe confiava na capacidade de meu pai que éra um ótimo pedreiro e como ela já estava cansada de viajar diáriamente , chegando tarde em casa e de subir a ladeira do morro da Conceição todos os dias , insistiu em ficarmos. E assim foi.Meu pai apesar de sua opinião colocou mãos à óbra e aos poucos a casa foi ficando habitável. Pertinho da fábrica, minha mãe acordava cêdo , deixava a comida pronta , a casa arrumada e voltava na hora do almoço com algumas colegas a quem dava pensão e depois quando soava o primeiro apito voltavam para fábrica. Devo dizer que minha mãe sempre éra a última a entrar de volta justamente quando o último apito tocava e ninguém mais poderia entrar.Quando minha mãe casou-se com meu pai levou junto com ela as duas irmãs. Rosa a mais nova e Maria a mais velha,cumprindo uma promessa feita em sonho a sua mãe, já que minha avó materna também de nome Judith morrera de gripe espanhola quando minha mãe contava com 11 anos de idade .Rosa casou-se quando ainda morávamos na Praça Mauá, na casa de meus avós paternos indo morar no suburbio de Olaria e Maria a mais velha só veio a casar-se na Gávea, já quando éramos , eu e meu irmão mais crescidos e já frequentando a escola.Esqueci de dizer que assim que voltamos a morar na Rua Lopes Quintas, éra minha tia Maria quem cuidava da casa e de mim e meu irmão. Só depois de seu casamento com um primo já bem maduro é que minha mãe passou a cuidar de tudo. Fazia cocadas , para vender para as suas colegas na fábrica, vendia perfumes , sandálias de pneus, para ajudar ao irmão Edyl que estava internado com tuberculose em um hospital de Jacarépaguá ,e outras coisas mais para que nada nos faltasse.E foi assim por muito tempo. sem reclamar .E se mais não fazia porque lhe faltava tempo.
.Dedico essa crônica a todos que a aqui mencionei, principalmente à minha mãe.