Crônicas de Dallier

Nome:
Local: Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil

Pensava em ser um Lawrence Olivier, ou um Orson Welles, e me tornei um seguidor de Van Gogh. Já escrevi fotonovelas, fiz teatro infantil e adulto. Aos 39 anos comecei a pintar... E asssim venho me expressando sem fronteiras, descobrindo que sou um artista.

29.7.06

UM NOVO SÁBADO



Novo sábado está chegando ao fim e eu não consegui escrever nada de positivo, pois minha cabeça está girando tanto que acho que ela poderá sair voando pelo espaço sem que eu consiga voltar ao normal.É preciso agir rapidamente para que isso não aconteça. Fazer o que ? –fechar os olhos , correr para um canto bem escuro onde eu não possa me enxergar , não escutar os meus próprios pensamentos, esquecer a realidade e fugir para o passado na busca de encontrar fantasmas esquecidos no tempo ,na esperança que eles venham salvar esse sábado perdido?- Vou me trancar no quarto bem escuro para ver se consigo me encontrar e não dar espaço para que a cabeça possa voar e assim me aquietando as coisas voltem ao seu normal e eu possa ainda salvar o restante deste sábado tristonho, impaciente, devorador de pensamentos alienados e depois de tudo ocorrido nesse dia chegue alguém com alguma noticia bôa que me faça colocar a cabeça em seu devido lugar e de comum acordo com ela as coisas se arrangem para esperar um domingo calmo e silencioso já com os pensamentos fugidios arquivados em seus devidos lugares a cabeça repousante e os ouvidos se deleitando ao som de uma música suave que me faça pensar corretamente , e assim poder construir positivamente , uma poesia, um quadro , ou mesmo plantar uma roseira na esperança que um breve dia sua rosas enfeitem minha última morada.


Dallier. 19 de março 2005

GENEROSO KODAK






Ele fora marinheiro por muitos anos de nossa marinha mercante.Viajou por diversos mares, visitou diversos países e nunca se interessou em carregar consigo uma máquina fotográfica para guardar de lembrança os lugares visitados , pessoas que conhecia nas viagens, amigos que como ele pertenciam a mesma embarcação. E assim foi por muitos anos , procurando sempre nas viagens que fazia cumprir com sua obrigação, ser um marinheiro padrão, cumprir melhor possível com suas obrigações, e deixar os dias correrem até que chegasse de volta ao Brasil, avistasse de longe o Corcovado e o Pão de Assucar. Aí então sua vida mudava., Amava o país onde nasceu e nada o fazia mais feliz de ver seu navio atracar no porto da Praça Mauá, beber seu chopp geladinho no bar do Zico bem embaixo do prédio onde estava situada a Radio Nacional onde cantava aquela que ele considerava sua deusa ;: Emilinha Borba..Depois do chopp ele subia o Morro da Conceição onde morava em um quarto que alugara na casa de Dona Clotilde no número cinqüenta e dois e depois de cumprimentar outros moradores, pois dona Clotilde apesar dos quatros filhos que tinha alugava quartos e vagas para outros marinheiros e mesmo pessoas que nada tinham a ver com a marinha como dona Carlota e seu filho, cujo nome não me lembro que moravam no quarto da frente da casa, Depois de se aconxegar em seu quartinho esticava seu corpo naquele colchão que impacientemente lhe esperava de suas viagens.Generoso tinha três grandes amores na vida. O Brasil, Morro da Conceição e Emilinha Borba, a sua favorita e que havia sido eleita por todos de sua coporação a Favorita da Marinha. Fechado em seu quartinho., procurando não houvir o borburinho da casa:, crianças gritando, vozes de vizinhos chamando pela dona da casa, ele ligava seu radio e sintonizava na Radio Nacional procurando ouvir a voz saudosa de sua cantora preferida., ou então ligava sua pequena vitrola e colocava um disco e sorria ouvindo a voz de Emilinha cantando seus boleros ou marchinhas carnavalescas .Depois de alguns anos ele se aposentou da marinha e continuou morando no Morro da Conceição que era sua quarta paixão e não tendo mais nada para fazer na vida além de freqüentar o auditório da Radio Nacional, beber seu chopinho no Bar do Zico, ele que havia ganho de presente uma máquina fotográfica resolveu começar a fotografar o lugar onde vivia, seus amigos, as pessoas do morro e a distribuir gratuitamente a todos que fotografava com sua máquina Kodak . Por ter viajado muito poucos conheciam seu nome verdadeiro e graças a sua generosidade em distribuir as fotos graciosamente todos passaram a lhe chamar de Generoso Kodak. Era assim em todos os lugares do morro que percorria, fosse no campo de futebol fotografando o Conceição futebol club jogar, nos dias de carnaval onde fazia questão de fotografar seus companheiros do bloco de sujo que todos os anos descia a ladeira para se apresentar na Av Rio Branco e adjacências .Poucos sabiam que seu nome era Ozório Justino da Silva. Num desses carnavais, ele conheceu Amália por quem se apaixonou, uma dessas paixões tardias, quando a solidão começa a bater mais forte e as paixões antigas não tem mais tanto valor e assim ele resolveu abandonar o quartinho da casa de Dona Clotilde, deixou de lado os discos de Emilinha e resolveu pedir Amália em casamento e ir morar com seu novo amor lá para as bandas do Ceará. Foi-se ,Amália conseguiu enfeitiçá-lol e os dois partiram , não de navio, mas de ônibus A última noticia que nos chegou aqui no morro é que Generoso, nunca mais fotografou e aos poucos foi definhando de saudades do Morro da Conceição;Emilinha ele conseguia ouvir de seu radinho, já que morava lá pelos cafundós do Ceará.., Era saudades de mais para agüentar a viver por muito tempo. E lá. Debaixo de uns palminhos de terra Generoso descansa em paz.

Dallier, l3 de julho de 2006.

10.7.06

Dez de Julho


10 de julho de 1932.Em plena revolução eu nasci, entre tiros e correrias vim ao mundo nesse dia tumultuado.Fui amparado pelas mãos carinhosas, em casa, por minha mãe preta de nome Judith,com quem meus pais dividiam a casa de número 28 de uma ruazinha de nome Estela, quase no fim da Pacheco Leão, bem pertinho do horto florestal. Minha mãe não teve leite para amanentar-me nem tão pouco ao meu irmão Oswaldo nascido quase dois anos antes.Foi Dona Judith quem nos amamentou e foi de seus seios negros que nos alimentamos no princípio de nossas vidas. Ali vivemos por mais algum tempo até que viemos morar no Morro da Conceição, na Praça Mauá. Minha mãe éra operária da Fábrica Carioca e todos os dias viajava até a Gávea para trabalhar juntamente com minha tia Rosa . Minha tia mais velha de nome Maria cuidadava de nosso sustento, apesar que na velha casa de meus avós paternos
além deles moravam na casa outros filhos e netos . Morávamos nos fundos com uma linda vista para Baia da Guanabara, onde hoje serve de meu atelier, setenta e tantos anos depois. Naquela época existiam ônibus da ligth de dois andares que faziam o trajéto Praça Mauá- Jockey Club. Já quase completando sete anos ,meus pais resolveram voltar ao bairro onde nasci. Fomos morar em uma pequena casa de vila na Rua Lopes Quintas onde anteriormente morava o contra-mestre de minha mãe na fábrica.; cujo apelido éra Jaime Malhado. A casa além de ser muito pequena estava em péssimo estado, meu pai que ainda não havia visto a casa recusava-se a entrar. As paredes esburacadas , a cêrca com pedaços de madeiras amarradas com trapos velhos e sujos mostravam o que nos esperava.Minha mãe confiava na capacidade de meu pai que éra um ótimo pedreiro e como ela já estava cansada de viajar diáriamente , chegando tarde em casa e de subir a ladeira do morro da Conceição todos os dias , insistiu em ficarmos. E assim foi.Meu pai apesar de sua opinião colocou mãos à óbra e aos poucos a casa foi ficando habitável. Pertinho da fábrica, minha mãe acordava cêdo , deixava a comida pronta , a casa arrumada e voltava na hora do almoço com algumas colegas a quem dava pensão e depois quando soava o primeiro apito voltavam para fábrica. Devo dizer que minha mãe sempre éra a última a entrar de volta justamente quando o último apito tocava e ninguém mais poderia entrar.Quando minha mãe casou-se com meu pai levou junto com ela as duas irmãs. Rosa a mais nova e Maria a mais velha,cumprindo uma promessa feita em sonho a sua mãe, já que minha avó materna também de nome Judith morrera de gripe espanhola quando minha mãe contava com 11 anos de idade .Rosa casou-se quando ainda morávamos na Praça Mauá, na casa de meus avós paternos indo morar no suburbio de Olaria e Maria a mais velha só veio a casar-se na Gávea, já quando éramos , eu e meu irmão mais crescidos e já frequentando a escola.Esqueci de dizer que assim que voltamos a morar na Rua Lopes Quintas, éra minha tia Maria quem cuidava da casa e de mim e meu irmão. Só depois de seu casamento com um primo já bem maduro é que minha mãe passou a cuidar de tudo. Fazia cocadas , para vender para as suas colegas na fábrica, vendia perfumes , sandálias de pneus, para ajudar ao irmão Edyl que estava internado com tuberculose em um hospital de Jacarépaguá ,e outras coisas mais para que nada nos faltasse.E foi assim por muito tempo. sem reclamar .E se mais não fazia porque lhe faltava tempo.
.Dedico essa crônica a todos que a aqui mencionei, principalmente à minha mãe.